Oi, bonitinhos!
Com o final do ano de 2013, resolvi entrar na onda dos blogs sobre livros e fazer a minha listinha dos dez melhores livros que eu li no ano. Eles não estão na minha ordem de preferência, mas eu gostei mais de uns do que de outros. Vamos à lista?
#1 - The Mill on the Floss [O Moinho à Beira do Floss] - George Eliot
Amei tanto esse livro que o meu projeto de dissertação do mestrado tem ele como objeto de estudo. O romance conta a história da Maggie Tulliver (sobre a qual eu falei nesse post
aqui), e, entre outras coisas, seu relacionamento conturbado com o irmão, Tom. A George Eliot tem um jeito lindo de fazer descrições, principalmente porque consegue expressar muito bem os sentimentos das personagens, sem se tornar clichê ou careta. As discussões que o livro traz sobre o papel da mulher, o que ela pode ou não fazer em relação a um amor, são muito sensíveis. Além disso, o dilema da personagem principal entre fazer o que é certo para sua razão e o que é certo para seus sentimentos coloca para o leitor um impasse que é muito difícil de resolver.
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Fotinha da George Eliot pra vocês curtirem ;) |
#2 - Atonement [Reparação] - Ian McEwan
Mais uma leitura relacionada ao mestrado. O McEwan é um mestre da narrativa. Li poucos escritores que tivessem tanto controle do romance. A história do envolvimento de Briony Tallis no amor da irmã Cecilia por Robbie Turner é ao mesmo tempo revoltante e emocionante. Eu odiei muito a narradora, Briony, por boa parte do livro, só para no final me apaixonar por ela. Um dos melhores do ano.
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A Briony (Saoirse Ronan) do filme do Joe Wright |
#3 - Shame [Vergonha] - Salman Rushdie
Indicado pelo meu amigo Luca Bittarello, marcou uma guinada pra leitura de livros bons esse ano. É um livro do indiano Salman Rushdie (de quem eu não conhecia nenhum romance ainda), que se parece muito com o Cem anos de Solidão do García Marquez. O história traça a trajetória de duas famílias inimigas em um país relativamente novo, que é um Paquistão fictício. O tema principal, retratado no título do livro, Vergonha, é alvo de inúmeras discussões ao longo dos acontecimentos do enredo. Eu adoro os elementos mágicos da história, e as cenas poderosíssimas que o autor cria quando fala principalmente das personagens mulheres.
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Rushdie com carinha de "sou f**a" |
#4 - The History of Love [A História do Amor] - Nicole Krauss
Fiquei apaixonada por esse livro. É a história de um senhor judeu, Leo Gursky, que escapou da Polônia invadida pelos nazistas e veio morar em Nova Iorque, cruzada com a história de Alma, uma menina judia cujo pai morrera de câncer. Além de serem ambos da mesma religião, as duas personagens acabam tendo as trajetórias que se encontram por causa do livro "A História do Amor". O romance intercala narrações de Alma, de Leo e do irmaozinho da menina, Bird. O modo como o livro é narrado lembra bastante o Extremely loud, Incredibly close (Extremamente alto, Incrivelmente perto), do Jonathan Safran Foer, que é marido da Nicole Krauss. Os dois romances foram lançados em 2005 e são ambos maravilhosos.
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"Era uma vez um garoto que amava uma garota, e a sua risada era uma pergunta que ele queria passar a vida toda respondendo." <3 |
#5 -
Beloved [
Amada] - Toni Morrison
Outra leitura para o mestrado. Eu já tinha lido o A Mercy (Compaixão), e tinha gostado bastante. Beloved (Amada) é muito melhor. A prosa da Toni Morrison é, por vezes, quase poesia; a forma do romance vai se moldando de acordo com o foco narrativo, e o leitor, apesar de ficar um pouco perdido de vez em quando, fica muito mais sensível à história. No entanto, vocês não precisam achar que, porque é poético, o romance de Morrison seja daquelas pedreiras que só intelectuais gostem de ler. A história Sethe e suas filhas, a meu ver, emociona e envolve qualquer leitor, principalmente porque lida com o tema da memória da escravidão - uma questão que toca bem fundo.
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A Oprah Winfrey como Sethe na adaptação de Beloved de 1998 ("Bem-Amada" em português) |
#6 - Bliss & Other Stories - Katherine Mansfield
Um livro de contos, para variar um pouco a minha lista. A Katherine Mansfield é uma escritora da Nova Zelândia do começo do século XX - e uma contista e tanto. O livro Bliss & Other Stories (Felicidade e outros contos) traz contos que analisam momentos de profunda importância para as personagens. Quase sempre eles lidam com retratos do cotidiano, mas o foco na vida interior dos envolvidos faz com que uma simples compra de cerejas signifique bem mais do que o esperado. A sensibilidade de Mansfield foi, para mim, até um pouco assustadora: a lente pela qual ela enxerga e retrata o mundo é de uma agudeza ímpar. O conto Bliss, principalmente, entrou para a minha lista de favoritos.
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A Katherine lendo um livrinho pra vocês se inspirarem ;) |
#7 - The Brief Wondrous Life of Oscar Wao [A fantástica breve vida de Oscar Wao] - Junot Diaz
A fantástica breve vida de Oscar Wao foi tão bom de ler que eu até fiz um vídeo sobre a minha leitura. Deixo o
link para quem não chegou a ver.
#8 - Maus - Art Spiegelman
Eu não sou uma leitora muito assídua de quadrinhos. Aliás, 2013 foi marcado pela minha entrada nesse mundo dos romances gráficos (que dá pra definir em linhas gerais como quadrinhos mais longos e em forma de livro). E que entrada! Li Habibi, do Craig Thompson, que encanta pela qualidade artística, li Watchmen, escrito pelo Alan Moore e ilustrado pelo David Gibbons, um clássico do gênero, li Persépolis, da Marjane Sartrapi, que está mais abaixo nessa lista, e li Maus, do Art Spiegelman, que me deixou impressionada. Além das soluções interessantes que ele acha para a representação das diferentes etnias, retratando os nazistas como gatos, os judeus como ratos, os poloneses como porcos, etc, a história em si é incrível. Não apenas pelos acontecimentos (que são relativamente comuns em memórias sobre a Shoá), mas pela maneira como o escritor retrata o processo de escuta e reflexão sobre as memórias do próprio pai. O pai, Vladek, é um personagem extremamente contraditório - se, por um lado, ficamos encantados com sua resiliência, por outro nos exasperamos, assim como Art, com sua teimosia. O romance é um relato rico e complexo sobre o modo como o trauma da perseguição dos judeus se refletiu na relação entre pai e filho.
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A ilustração dos quadrinhos |
#9 - The Virgin Suicides [As Virgens Suicidas] - Jeffrey Eugenides
Eu adoro o Jeffrey Eugenides. Li o A Trama do Casamento no ano passado e adorei, e agora li o As Virgens Suicidas, que achei tão bom quanto (ou até melhor, não me decidi ainda). Este romance trata da história dos cinco suicídios das irmãs Lisbon, vistos pelos olhos dos meninos que eram apaixonados por elas. Eu achei muito interessante que, quando as meninas aparecem contracenando com os garotos, suas personalidades são mais verossímeis e até meio comuns. No entanto, quando o narrador conjectura sobre o que aconteceria dentro da casa dos Lisbon, as meninas se transformam em seres mais etéreos e quase míticos. De um modo geral, o romance é uma bela reflexão sobre o modo como lidamos com situações que nos são estranhas e levemente intoxicantes.
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O filme da Sophia Coppola |
#10 -
Persepolis [
Persépolis] - Marjane Satrapi
Finalmente, o décimo dos meus preferidos do ano foi Persépolis, da iraniana Marjane Sartrapi. Não foi tão bom quanto Maus, mas as linhas simples das ilustrações e as relações do enredo com a história do Irã (que não me era muito familiar) me cativaram bastante. Além disso, a discussão sobre o direito das mulheres em países islâmicos é extremamente relevante para o mundo atual, e a autora consegue levantar a questão com muita sinceridade, a partir de sua experiência pessoal.
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Os quadrinhos foram adaptados para o cinema e o filme foi dirigido por Sartrapi e por Vincent Paronnaud |
Então, aproveitando que hoje é 31 de dezembro, desejo a todos vocês um 2014 cheio de ótimas leituras, e que a gente possa trocar uma ideia sobre elas aqui no blog. :)
Beijão